quinta-feira, fevereiro 23, 2006

do sempiterno e seus compêndios


" as palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando uma com as outras, parece que não sabem aonde querem ir e, de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem aguentar mais, suportaram muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura..."
*excerto de Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
"Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato. Seguindo esta receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram."
*excerto de Saúde Mental, de Rubem Alves (OBRIGADA, EEK!)
"Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada. "
*excerto de Dama da noite, de Caio Fernando Abreu

sábado, fevereiro 18, 2006

Se há algo diminuto no sobrenome, é apenas por engano...


Para Coutinho


COCOON
Bjork


Who would have known : that a boy like him
would have entered me lightly restoring my blisses

Who would have known : that a boy like him
after sharing my core would stay going nowhere

Who would have known : a beauty this immense
who would have known : a saintly trance
who would have known : miraculous breath
to inhale a beard loaded with courage

Who would have known : that a boy like him
possessed of magical sensitivity
would approach a girl like me
who carresses
cradles
his head in a bosom

He slides inside
half awake / half asleep
we faint back
into sleephood
when i wake up
the second time in his arms : gorgeousness!
he's still inside me!

who would have known

A train of pearls
cabin by cabin
is shot precisely across an ocean
from a mouth

From... a...

From a mouth of a girl like me

To a boy
To a boy
To a boy

Epifania cruciante...


Me mataria em março
se te assemelhasses
às cousas perecíveis.
Mas não. Fôste quase exato:
doçura, mansidão, amor, amigo.
Me mataria em março
se não fôsse a saudade de ti
e a incerteza de descanso.
Se só eu sobrevivesse quase nula,
inerte como o silêncio:
o verdadeiro silêncio de catedral vazia,
sem santo, sem altar. Só eu mesma.
E se não fosse verão,
e se não fosse o medo da sombra,
e o medo da campa na escuridão,
o medo de que por sôbre mim
surgissem plantas e enterrassem
suas raízes nos meus dedos.
Me mataria em março
se o medo fosse amor.
Se março, junho.
(Poema II do livro Presságio, de Hilda Hilst)
não consigo reconhecer no lá fora as cores que me compõem. no lá fora, há azul, verde-bandeira, marrom, cinza, laranja... aqui dentro, roxo. blue, volte mais tarde, agora fico com blues. se silencio, não é por não ter o que dizer. quero cantar, calo. não funcionaria de outra maneira. o embusteiro roubou-me as partituras e as notas de que me recordo se perdem antes de chegar às comissuras de minha boca... de tanta força que faço, meu arco se parte e minha música se torna inaudita conquanto o músculo teime em me dar compasso. um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar...
elefantes, Muralhas da China, crianças, piratas. não insistam! não vêem que aqui dentro não há lugar? não percebem que para lhes dar espaço, preciso liquefazer-me? e que, de tão líquida, desidrato? I've seen water... it's water, that's all!
por onde se escoa o amor? não falo do amor à la se-você-quiser-ser-minha-namorada... ah! se tudo fosse isso!!! sou uma mãe incestuosa e masoquista, compreende? lambo a virilha do amor mas há navalhas nela. trauteio uma ciranda para ele dormir e me enveneno...
será que se eu ficar de cabeça pra baixo o amor sai? que parte do meu corpo ele habita? não faz sentido ele ficar no coração. e se ele nasce no coração e é transportado pela corrente sanguínea, se ele circula, por que, então, eu o sinto em lugares específicos? o amor pode coagular em alguma parte do meu corpo? e se coagular, pode virar gangrena? pode me tornar putrefata? pode amputar-me algum membro? pode me matar? e se é bonito, se pulsa, se circula, se leva e traz ar, por que mata?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Não há "somos" e, sim, assomos de sermos...

"Modern Romance"
Don't hold on
Go get strong
or don't you know
there's no modern romance
Time, time is gone
it stops stops
who it was
well i was wrong
it never lasts
there is no
this is no modern romance
in time,
time is gone
never last
stops who he was
well i was wrong
never lasts
this is no
there is no modern romance
there is no modern romance
this is no modern romance
there is no there is no
***
Faixa "oculta" do mesmo álbum (Fever to tell)
Baby I'm afraid of a lot of things but
I ain't scared of loving you
And baby I know you're afraid of a lot of things
But don't be scared of love... 'cause
People will say all kinds of things
But that don't mean a damn to me
'Cause all I see is what's in front of me
And that's you
Well I've been dragged all over the place
I've taken hits time just don't erase
And baby I can see you've been fucked with too
But that don't mean your loving days are through
'Cause people will say all kinds of things
But that don't mean a damn to me
'Cause all I see is what's in front of me
And that's you
Well I may be just a fool
But I know you're just as cool
And cool kids, they belong together
Por hoje (ou melhor, por agora), como estou atrasada para um compromisso e as emoções crepitam em mim até sufocar, vou deixar que a música fale por si...
à elle, mon bourreau! (a ela, meu carrasco)

terça-feira, fevereiro 14, 2006

MON REPOS... *


* "meu repouso", em francês.
"já sabemos que desses dois se amam as almas, os corpos e as vontades, porém, estando deitados, assistem as vontades e as almas ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles para tomarem parte no gosto, difícil é saber que parte há em cada parte, se está perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda levanta as saias e Baltasar deslaça as bragas, se está a vontade ganhando ou perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo vencedor ou vencido quando baltasar descansa em Blimunda e ela o descansa a ele, ambos se descansando (...) que entre o amor dos que ali dormiram e a santa missa não há diferença nenhuma; ou, se a houvesse, a missa perderia"
excerto de Memorial do Convento, de José Saramago

"Conversa às 3:30 da madrugada"



às 3h30 da madrugada
uma porta se abre
e há passos na entrada
movendo um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e responde.
com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?
e ela entra
com rolos no cabelo
e num robe de seda
estampado de coelhos e passarinhos
e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.
você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e de canções românticas,
e depois de alguns copos
ela não se preocupa em cobriras pernas
com a beira do robeque está sempre caindo.
não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolos,
e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.
e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.



conheci Bukowski de forma inopinada: meu pai (ainda terão oportunidade de conhecê-lo... hehehehehe) tinha dois livros dele, Fabulário Geral do Delírio Cotidiano e Mixto Quente - diga-se de passagem que não se tratam de dois títulos tão conhecidos... fiquei olhando para a fotografia de divulgação... um velho pançudo, com uma camiseta justa e pequena, que mal cobria seu umbigo, um cara feio mesmo, com uma garrafa numa mão e uma mulher pitoresca (ai, o eufemismo...) na outra! fuçei tudo o que pude sobre a obra e a vida dele. curvei-me de imediato! já então gostava de ler e tinha cá as minhas aspirações mas nunca tinha visto nada tão escrachado. conservava a ingênua concepção de que Versos Íntimos era o máximo do rebelde, do soturno... é isso mesmo! literatura de colegial... podre!

não preciso dizer que cometi o delicioso delito de pegar esses livros "emprestados" sem autorização e tratei logo de pôr meu nome neles. que diabos, meu pai nunca leria aquilo mesmo! se leu, de certo que foi no tempo em que ele usava uma haviana de cada cor, mesclando rosa e azul, ou amarela e preta... dava tudo para ver isso!!!

bukowski, então, aguçou-me a sensibilidade - ele daria boas gargalhadas se soubesse disso e eu riria com ele da mesma maneira: marginal, contundente, anestésica...

Pour toi, mon gredin! (para você, meu patife!)


"Crevez, chiens, si vous n'êtes pas contents!" *

* "rebentem, cães, se não estão contentes!" (na cultura nordestina brasileira, eu atribuiria a "é tempo de murici, cada um cuida de si!)
não imaginei que fosse tão difícil criar e manter um blog! melhor: pensava que as dificuldades se resumiriam à responsabilidade acerca do que fosse "dito"... mas que nada! esta já é a a segunda vez que tento postar alguma coisa, que tenho texto, imagens, dedicatórias, a parafernália toda estruturada e formatada na tela do computador e recebo uma rasteira daquelas de mestre da tecnologia!!! hehehehehehehe... primeiro, é o servidor que resolve se abster de suas atribuições bem na hora em que resolvo salvar a tal da postagem! desta última vez (assim espero!!!), há uma queda de energia na minha rua!! só rindo...
fato é que fiquei sem o que havia traçado ontem (Patinha, minha referência a você fica para uma próxima, viu?) e minha anima tornou-se iracunda... resolvi sorver o fenômeno e conferir, como uma cristã perturbada, ares de parábola a ele: vou salvar cada vírgula do que fizer no Word... e tenho dito!

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

"eu corpo palavra, sangue emoção sufixo..."



nossa! como foi difícil criar isso... para começar, o nome: "fogo-fátuo", "assez-cause", "espasmódica", "rútilo-nada"... ahhhhhhh! quase fiquei pelo caminho. qual o quê! então, dormi pensando nisso e foi à toa? e cá estou eu, sentindo um frio na barriga... pode? mas assim é que é: essa exposição, essa responsabilidade com as palavras que tenho desde sempre... bom, às favas com tanta relutância! Assez-cause!!!