quinta-feira, novembro 22, 2007

deboche de glacê azeda



sinto que é como se fosse meu primeiro livro, no sentido de que me desembaracei do umbigo e cheguei mais perto da ficção, do Brasil, do humano alheio, não apenas meu.

Caio F. em carta a um amigo sobre o livro Onde Andará Dulce Veiga?
***
prezado Caio,
sei que agora não vai adiantar muita coisa, mas gostaria de tê-lo conhecido, de te dar uns bofetes na fuça, de te sacudir, sei lá. li o seu livro. aliás, tenho lido tudo o que cai na minha mão. se for maldito, então, tô dentro! primeiramente, quero dizer que continuo preferindo os teus contos ao romance - só li o da Dulce mesmo. acho que entendo o que você quis dizer com isso de ter chegado mais perto da ficção. eu não consigo, cara. parabéns! agora, quanto a se desembaraçar do umbigo, conta outra! isso, desculpa, você não conseguiu, não...

em verdade, acho que você nem deveria ter tentado. pelo menos, não na literatura. o romance é ótimo e coisa e tal. li quase que num fôlego só. mas aí é que está! não atribuo isso à trama. tava cagando pra onde tinha ido parar a Dulce, pra borboleta no meio dos peitos da filha dela, etc. li, escarafunchando você. e encontrando. em tudo. sorrindo assente e pensando "ai, bicha, você era mesmo um gatinho de rua, machucado e sarnento, mendicante e orgulhoso ...". entende? você era bom nisso de falar de si mesmo, de se proclamar oprimido e de se preferir assim. maldito e ao mesmo tempo o mais doméstico dos bichos. se desembaraçar do umbigo? pra quê? você não sacou que o grande lance era futucá-lo, gosto da tua sujeira e que se dane!

um afago no focinho sujo de terra.






terça-feira, junho 19, 2007

volta rizomática


'muros castos e tristes

cativos de si mesmos


como criaturas que envelhecem

sem conhecer a boca

de homens e mulheres.


muros escuros, tímidos:

escorpiões de seda

no acanhado da pedra.


há alturas soberbas

danosas, se tocadas.

como a tua própria boca, amor,

quando me toca.'


poema de Lucas (Rútilo-nada)