segunda-feira, janeiro 28, 2008

| rosa sônica-atômica-histriônica |



*foto: Cindy Sherman

as vozes, doces vozes que vêm e vão, buzinam, se confundem com o som dos pássaros e de passos no chão. são parte dessa sinfonia bela de tão louca, exuberante, que penetra em nossas almas, não se cansa de tocar.

excerto da música boca pouca, letra de rebeca matta


colorido-colorido

atrás da vidraça

dolorido-colorido

no fio da fumaça

dolorido-colorido

no fundo da taça

excerto de pode ser que seja só o leiteiro lá fora, caio f.


***


risível a tentativa do apreender, do acertar. de tão nobre, tão alta e altiva, é divina e, desse modo, em nós, patética. e, no entanto, inexpugnável: que fazer? fechar os olhos e pôr pé ante pé? como, com tanta ameaça dentro e fora gente? válvulas de gás, terapias, orientais, travas elétricas, ioga,drogas, meteorologia, biodiesel, bolsa de valores, seguros de vida, de imóvel, de automóvel, previdência... tudo, tudo o que a gente cria - a idéia que se consolida em pensamento, o pensamento que se consolida no ato, o ato que se consolida sem o pensamento - tudo é tentativa de catalogar, deduzir, inferir, lidar. é nosso, indefectivelmente nosso. poderzinho de merda: dar nome, conceito e função, o embuste de uma vida inteligente. uma mixórdia inumerável de possibilidades de fracasso, a inaptidão inata de todos nós. afinal, o que é que a gente tanto tem pra aprender? somos inaptos pro negócio mesmo, sabe? nenhum outro animal passa por isso, não há desvios: procurar comida, lutar, acasalar, procurar abrigo, dormir, morrer de velhice ou ferida. pronto. nós é que somos risíveis... e eu, rainha histriônica de um universo de dúvidas, aqui, na minha soliloquacidade mortal!


mas uma coisa pelo menos posso dar como certa: nas últimas semanas, veja que coisa, me sinto mais estranha que o de costume e acho isso um ótimo presságio! tenho teimado mais comigo, me desafiado. um decantar com o frio da febre - pode ser genuinamente gostoso, sensorialmente gostoso nuns momentos, e noutros, desesperador como uma convulsão. costuro capas de força, coloridas e primitivas, para afugentar - ou ao menos encobrir - meu medo. uma desenvoltura sofrida, fustigada sadicamente por mim mesma, só para saber no que vai dar. o gozo às avessas da volição. aqui na contramão, me entupindo com todo esse lance de animus, adumbratio, forças-devastadoras-da-mente-embargando-a-nossa-capacidade-de-auto-dominação, e todo o blá blá blá junguiano, e vendo tanta merda e tentando tirar o limo do olho e me "aprumar", não é que fica parecendo que eu consigo me ordenar e me conter?! transe ou verdade, gosto disso, me agarro a isso, querendo acreditar em mim, o todo-mínimo, que é só o que eu posso tentar garantir. e, bestial, seguir rogando à Grande Mãe, ao Coelhinho da Páscoa, drudas, trindade, Shiva, Pavarti e ao caralho a quatro uma coisa nova, uma coisa fulva por gentileza!