
É bem provável que, mesmo agora, com dezenas de teclas a meu dispor, eu esteja hesitante quanto ao que “escrever”. Pior ainda, é certo não saber se é direito. Uma comoção assoma neste instante em que sei que já não posso mais me furtar o deleite exasperado que somente o livrar-me de uma idéia, ao dar-lhe roupa de palavra, pode ter.
Meus dias sem uma rotina, propriamente dita e exaltada de forma estentória pelo imaginário coletivo, trazem meus pensamentos sempre febris, impelindo meus olhos a se abrirem, a se arregalarem mesmo, para assim, talvez, eu enxergar mais do que vejo. Não obstante, quem produz tal efeito é a inflamação na minha mente e, assim sendo, acabo por enxergar com candura o que não me fora ofertado, meus olhos piscam flamejantes, iracundos, com uma ofensa que não me fora dirigida... Seria mais preciso dizer, por certo, que vivo embebida em estados de ânimo espasmódicos e, se me coloco como agente da passiva, é porque disso não tenho passado: não são os estados de ânimo de Aline e, sim, a Aline dos estados de ânimo diversos...
De quando em vez, ponho as costas da mão esquerda sobre meu pescoço para me certificar de que o meu corpo também vivencia a mesma febre terçã, e me pego sorrindo mesmo antes de uma pele encontrar a outra para a citada certificação. E nisso de sentir febre sem o corpo sabê-lo, e nisso de sorrir disso, e nisso de ousar descrever isso de sentir e de sorrir de algo que não se pode comprovar, meus olhos inexoravelmente hão de marejar como se eu tivesse encontrado alguém que eu amo muito mas partiu como se para sempre e que agora eu avistasse caminhando na minha direção.
Sabe o quê mais? Eu quero amar essa visitante imaginária. Não, não, acabo de convencer-me de que a amo mesmo. Dei a ela cores e estatura, gestos e mãos, sombras e um desenho de traçado firme. Como qualquer mulher, ela tem uma história pintada na retina e muitas outras por trás e de algumas delas não me será dada notícia. Como a mulher que caminha para mim, tudo o que ela diz, ainda o que da boca não sair, é colhido com zelo ora de quem guia com maestria, ora de quem tateia o que não sabe que lá está.
Essa mulher conserva a pele sempre quente de tal maneira que a minha, que também deveria ser quente, teima em não o ser só para suplicar ainda mais os calores do corpo dela. Ela diz que eu devo ser sempre dela e pede que eu jure só suplicar assim por ela. Não tenho outra alternativa senão jurar de olhos risonhos e dizer que sim, mas que idéia, quem mais eu poderia querer? Juro e digo numa mentira escancarada que, ao invés de profanar meu juramento, só o doura de emolumentos e bálsamos.
Porque essa mulher que veio recostar sua cabeça majestosamente indecifrável em meus travesseiros para abrir meus poros aos suores, minhas pernas aos frêmitos e meus ouvidos aos apelos, não estará aqui quando eu acordar (e pode ser que se desembarace das minhas pernas no meio da noite), mas, com efeito, já é minha como eu sou da febre...
20 comentários:
Nossa!
"nossa": que merda, que lindo, que triste, que melancólico, não fede nem cheira... hueheuheuehueheuheuheue!!! Nossa???
Lindo Aline! Sem palavras... :)
É sempre inexplicável os sentimentos aflorados ao ler seus textos!!! Simplesmente... ah! vou parar de tentar!!!
beijo
Jojoplin, como sempre, tudo!
[ouvindo seu texto e lendo Frusciante... ou seria lendo o seu texto e ouvindo Frusciante?]
lindo (como sempre)!!
bjs & magnólias.
Tu quer mesmo que eu termine meu comentário? hein? hein? hahahah
Léa, melhor não... deixa quieto! tsc, tsc... já sei como você ia concluir isso!
Nanine, não posso deixar de comentar esse texto mais uma vez... Estou meio que viciada nele... Muito, muito, muito bom!!! Poxa! Queria você escrevendo assim lá no Multiply, pois assim ficaria bem mais fácil pra mim, que entro lá quase que diariamente... :D Estou quase pensando em linkar esse texto em minha página, mas eu não sei se devo ainda... Talvez ele seja demais para meu humilde jardim de borboletras.
Esse texto me engravidou de dezenas de milhares de imagens enquanto o lia e eram imagens deveras subliminares, talvez nem tão parecidas com o que era descrito textualmente em tuas letras, mas com o que elas, as tuas letras, excitavam no que guardo tão bem cuidado entre as orelhas e daí a correr em febre, quase tão terçã quanto a tua, por dentro de minas hemácias e glóbulos...
Este teu texto teve o poder de assomar uma quase lágrima e todos os meus sorrisos por mais de uma vez enquanto o lia, isto em todas as vezes que o li e quantas vezes o ler, creio que esta revolução irá acontecer no caminho entre meu cérebro até a corrente sanguínea, terminando naquela quase lágrima entre sorrisos.
Adorei! Adoro-te.
Oh, Lutrida querida... só você mesma para fazer um comentário desses! Com efeito, seu comentário tem tudo para ser elevado a post! risos... Olha, o texto não é demais para as suas BorboLETRAS, não, viu? hunf! Que conversa é essa? Nosso casamento literário é com comunhão de bens, lembre-se disso!
:) Hum!!! Vou preparar uma armadilha de borboletras pra ti então e você vai adorar cair nela... :) depois explico detalhes. ;)
(...)eu não sou eu
eu sou um outro(...)
andando sobre estradas incondicionalmente lynchianas.
Uma primeira leitura, três seres em mim.
...e nisso de sentir febre sem o corpo sabê-lo, e nisso de sorrir disso, e nisso de ousar descrever isso de sentir e de sorrir de algo que não se pode comprovar...
acho que deve ser isso...
sabe quando vc lê algo e se identifica naqueles textos...qd vc põe o olho em um livro e percebe que o narrador está falando diretamente a vc, entende...
...a familiaridade daquelas palavras...
dai vc se apega a ele, pq ele é um "igual", você passa a não se sentir mais tão isolado e louco...é isso...
sapere, é sempre bom ler teus escritos...
desculpa a demora em comentar...a "grande goiaba" estava se apossando de mim...rs
há sim, tomei a liberdade de "usurpar" um trecho de seu texto, dá uma olhada em meu flog depois...
bjs
minha versão masculina não é linda? risos... bisou!
amei! leio isso todo tempo e passo por sensações diferentes a cada leitura.
ai, que regozijo! minha orchidée comentando meu texto... linda demais! minha editora!! risos...
'orchidée'.. Que lindo.
Joplin, vc poderia escrever algo(bem grande) listando todos esses apelidos. Teríamos uma ilíada fácil fácil..
velho vc precisa ter um fotolog,hehehehhe!
ô meu amor desculpe por nao falar com vc no mssenger,as vezes sem tempo,meu niver ta chgando,prepare-se,rsrsrsr!!!
saudades de vc!!!
bjo
Eu só não entendo uma coisa: porque você nos deixa tanto tempo sem novidades??? Atualiza pelo menos uma vez por semana, meu amor!!!!!!!
Postar um comentário