sábado, fevereiro 18, 2006

Epifania cruciante...


Me mataria em março
se te assemelhasses
às cousas perecíveis.
Mas não. Fôste quase exato:
doçura, mansidão, amor, amigo.
Me mataria em março
se não fôsse a saudade de ti
e a incerteza de descanso.
Se só eu sobrevivesse quase nula,
inerte como o silêncio:
o verdadeiro silêncio de catedral vazia,
sem santo, sem altar. Só eu mesma.
E se não fosse verão,
e se não fosse o medo da sombra,
e o medo da campa na escuridão,
o medo de que por sôbre mim
surgissem plantas e enterrassem
suas raízes nos meus dedos.
Me mataria em março
se o medo fosse amor.
Se março, junho.
(Poema II do livro Presságio, de Hilda Hilst)
não consigo reconhecer no lá fora as cores que me compõem. no lá fora, há azul, verde-bandeira, marrom, cinza, laranja... aqui dentro, roxo. blue, volte mais tarde, agora fico com blues. se silencio, não é por não ter o que dizer. quero cantar, calo. não funcionaria de outra maneira. o embusteiro roubou-me as partituras e as notas de que me recordo se perdem antes de chegar às comissuras de minha boca... de tanta força que faço, meu arco se parte e minha música se torna inaudita conquanto o músculo teime em me dar compasso. um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar...
elefantes, Muralhas da China, crianças, piratas. não insistam! não vêem que aqui dentro não há lugar? não percebem que para lhes dar espaço, preciso liquefazer-me? e que, de tão líquida, desidrato? I've seen water... it's water, that's all!
por onde se escoa o amor? não falo do amor à la se-você-quiser-ser-minha-namorada... ah! se tudo fosse isso!!! sou uma mãe incestuosa e masoquista, compreende? lambo a virilha do amor mas há navalhas nela. trauteio uma ciranda para ele dormir e me enveneno...
será que se eu ficar de cabeça pra baixo o amor sai? que parte do meu corpo ele habita? não faz sentido ele ficar no coração. e se ele nasce no coração e é transportado pela corrente sanguínea, se ele circula, por que, então, eu o sinto em lugares específicos? o amor pode coagular em alguma parte do meu corpo? e se coagular, pode virar gangrena? pode me tornar putrefata? pode amputar-me algum membro? pode me matar? e se é bonito, se pulsa, se circula, se leva e traz ar, por que mata?

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que fiquei muito tempo de cabeça para baixo. belo, belo... vida noves fora zero.

Anônimo disse...

Tuas palavras calaram as minhas... Lindo texto e me deixou também de cabeça pra baixo e cheia de navalhas na carne...

Anônimo disse...

Em tempo, lindíssima fotografia.

Anônimo disse...

ela eh minha irma,viu...brincadeirinha.hehehe mas de fato sempre me orgulho de tu!!
eu super te amo...desculpa a brauzisse mas eu so assim..c sabe