quinta-feira, junho 29, 2006

hiato


"sabendo que a última chance de continuar com os pés no chão é inventando outros chãos para mim. inventando, leia-se escrevendo. escrevendo e agarrando com os dentes minha improvável lucidez"
excerto de 'As pessoas dos livros', de Fernanda Young (OBRIGADA, PAT, POR ME EMPRESTAR)



não vou alegar exiguidade no meu tempo, nem problemas de saúde ou com o servidor disto aqui. está tudo aqui, no mesmo lugar. talvez rotacionado, mas a mesma coisa...
só que, sabe, é tanta música, é tanta coisa dentro desse antigo-rotacionado, que não tenho conseguido debruçar-me sobre um teclado para dar forma a isso. continuo escrevendo, mas quero guardar essas letras comigo por enquanto. no momento, estou tentando reconhecer essa coisa amorfa que é o passar dos dias sobre mim e o meu passo sobre os dias!

quinta-feira, junho 08, 2006

plangência dirimida*

*à memória de C.F.A, a quem devo parte do saber-me assim

segunda lei de newton

vou gravar numa fita k7
todo silêncio que a fita durar
vou cantar pra sarar
toda vergonha que o tempo
não vai poder remediar
vou valsar em prelúdio a dança
não aceita quando o dia
terminou sem perdoar
vou gastar saliva
falando o que já não tem mais pra falar
vou gritar o que você
já não suporta mais escutar


.todo corpo em repouso precisa de uma força para se movimentar .


poema da minha jujubinha!

*

Não podia acalentar-se dizendo: isto é apenas uma pausa, a vida depois virá como uma onda de sangue, lavando-me, umedecendo a madeira crestada. Não podia engarnar-se porque sabia que também estava vivendo e que aqueles momentos eram o auge de alguma coisa difícil, de uma experiência dolorosa que ela devia agradecer: quase como sentir o tempo fora de si mesma, abstraindo-se.
excerto de Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector

***

como se todo encômio residisse no aparente desleixo de acender um cigarro. como se o fogo-fátuo dele combinasse com o flamejar próprio das peculiaridades enfastiadas de si mesmas...

como se se aproximasse a cada instante da beira da loucura. já havia aquele balançar caricatural dos loucos de manicômio, a sensação de que algo estava para acontecer. não, algo já estava acontecendo. e ela, estando fora por estar demasiado dentro, não sabia o que era, mas sentia.

podia reconhecer os sinais no oscilar do tempo, nos olhares, na forma como se encolhia ao dormir. era irrefutável. estava ali, nos vértices do quarto, como os fantasmas deliquescidos dos filmes de terror japonês.

faltava pouco. talvez uma borboleta extraída da sua cabeça, talvez uma boneca de pano com nome estranho, talvez um balbuciar de palavras incognoscíveis... e, então, ela teria por fim uma definição, um diagnóstico de nome extenso que, seja qual for, tem sinônimo certo: louca varrida.

quinta-feira, junho 01, 2006

_________aquático jazigo

"Sour Times"
Portishead

To pretend no one can find
The fallacies of morning rose
Forbidden fruit, hidden eyes
Curtises that I despise in me
Take a ride, take a shot now

Cause nobody loves me
It's true
Not like you do

Covered by the blind belief
That fantasies of sinful screens
Bear the facts, assume the dye
End the vows no need to lie, enjoy
Take a ride, take a shot now

Cause nobody loves me
It's true
Not like you do

Who am I, what and why
Cause all I have left is my memories of yesterday
Oh these sour times

Cause nobody loves me
It's true
Not like you do

After time the bitter taste
Of innocence decent or race
Scattered seeds, buried lives
Mysteries of our disguise revolve
Circumstance will decide ....

Cause nobody loves me
It's true
Not like you do
***
Quando Beatriz e Caiana te perguntarem, Dionísio,
se me amas, podes dizer que não. Pouco me importa
ser nada à tua volta, sombra, coisa esgarçada
no entendimento de tua mãe e irmã. A mim me importa,
Dionísio, o que dizes deitado ao meu ouvido
e o que tu dizes nem pode ser cantado
porque é palavra de luta e despudor.
E no meu verso se faria injúria

E no meu quarto se faz verbo de amor.

(Poema V de Ode Descontínua e Remota para flauta e oboé..., de Hilst)
***


sim, com efeito, não há melhor fomentador para a criatividade que os ânimos. eles têm ido e vindo, mas hoje não quero deixá-los à tona. quero a submersão, o naufrágio mesmo! que eles se desfaçam na ponta dos meus dedos, no estalar do meu isqueiro, no desenho do meu corpo entorpecido na cama, e me abandonem pela manhã! porque todos agora parecem clamar pela sua vez de orientar o que eu escrevo, digo que é demais. não posso agora querer tecer amavios a todos eles... prefiro-os assim, submersos, jungidos no fundo de mim. quem sabe se eu os recolher possa lidar melhor com esse expulsar-rogar em que eles me colocaram?

* depois escrevo algo compreensível!

quarta-feira, maio 10, 2006

______febre terçã_____________


Neste momento há infinitas possibilidades, horas inteiras à sua frente. A sua mente fervilha. Esta manhã talvez consiga penetrar no obscurecimento, nos canos entupidos, chegar ao ouro. Sente isso dentro dela, um quase indescritível segundo eu, ou melhor, um eu paralelo e mais puro. Se fosse religiosa, chamar-lhe-ia alma. É mais do que a soma do seu intelecto e das suas emoções, mais do que a soma das suas experiências, embora corra como veias de metal brilhante por todas essas três coisas. É uma faculdade interior que reconhece os mistérios estimuladores do mundo porque é feita da mesma substância, e, quando a sorte a bafeja muito, ela consegue escrever directamente através dessa faculdade. Escrever em semelhante estado é a mais profunda satisfação que conhece, mas o seu acesso a ele vem e vai sem avisar. Pode pegar na caneta e segui-la com a mão enquanto ela se move pelo papel; pode pegar na caneta e descobrir que é meramente ela própria, uma mulher de roupão segurando uma caneta, receosa e hesitante, apenas moderadamente apta, sem nenhuma idéia acerca de por onde começar ou do que escrever.
excerto de As Horas, de Michael Cunningham.


É bem provável que, mesmo agora, com dezenas de teclas a meu dispor, eu esteja hesitante quanto ao que “escrever”. Pior ainda, é certo não saber se é direito. Uma comoção assoma neste instante em que sei que já não posso mais me furtar o deleite exasperado que somente o livrar-me de uma idéia, ao dar-lhe roupa de palavra, pode ter.

Meus dias sem uma rotina, propriamente dita e exaltada de forma estentória pelo imaginário coletivo, trazem meus pensamentos sempre febris, impelindo meus olhos a se abrirem, a se arregalarem mesmo, para assim, talvez, eu enxergar mais do que vejo. Não obstante, quem produz tal efeito é a inflamação na minha mente e, assim sendo, acabo por enxergar com candura o que não me fora ofertado, meus olhos piscam flamejantes, iracundos, com uma ofensa que não me fora dirigida... Seria mais preciso dizer, por certo, que vivo embebida em estados de ânimo espasmódicos e, se me coloco como agente da passiva, é porque disso não tenho passado: não são os estados de ânimo de Aline e, sim, a Aline dos estados de ânimo diversos...

De quando em vez, ponho as costas da mão esquerda sobre meu pescoço para me certificar de que o meu corpo também vivencia a mesma febre terçã, e me pego sorrindo mesmo antes de uma pele encontrar a outra para a citada certificação. E nisso de sentir febre sem o corpo sabê-lo, e nisso de sorrir disso, e nisso de ousar descrever isso de sentir e de sorrir de algo que não se pode comprovar, meus olhos inexoravelmente hão de marejar como se eu tivesse encontrado alguém que eu amo muito mas partiu como se para sempre e que agora eu avistasse caminhando na minha direção.

Sabe o quê mais? Eu quero amar essa visitante imaginária. Não, não, acabo de convencer-me de que a amo mesmo. Dei a ela cores e estatura, gestos e mãos, sombras e um desenho de traçado firme. Como qualquer mulher, ela tem uma história pintada na retina e muitas outras por trás e de algumas delas não me será dada notícia. Como a mulher que caminha para mim, tudo o que ela diz, ainda o que da boca não sair, é colhido com zelo ora de quem guia com maestria, ora de quem tateia o que não sabe que lá está.

Essa mulher conserva a pele sempre quente de tal maneira que a minha, que também deveria ser quente, teima em não o ser só para suplicar ainda mais os calores do corpo dela. Ela diz que eu devo ser sempre dela e pede que eu jure só suplicar assim por ela. Não tenho outra alternativa senão jurar de olhos risonhos e dizer que sim, mas que idéia, quem mais eu poderia querer? Juro e digo numa mentira escancarada que, ao invés de profanar meu juramento, só o doura de emolumentos e bálsamos.

Porque essa mulher que veio recostar sua cabeça majestosamente indecifrável em meus travesseiros para abrir meus poros aos suores, minhas pernas aos frêmitos e meus ouvidos aos apelos, não estará aqui quando eu acordar (e pode ser que se desembarace das minhas pernas no meio da noite), mas, com efeito, já é minha como eu sou da febre...


terça-feira, abril 18, 2006

_____une charogne!*




* uma carniça

Remords Posthume
Charles Baudelaire

Lorsque tu dormiras, ma belle ténébreuse,
Au fond d'un monument construit en marbre noir,
Et lorsque tu n'auras pour alcôve et manoir
Qu'un caveau pluvieux et qu'une et qu'une fosse creuse;

Quand la pierre, opprimant ta poitrine peureuse
Et tes flancs qu'assouplit un charmant nonchaloir,
Empêchera ton coeur de battre et de vouloir,
Et tes pieds de courir leur course aventureuse,

Le tombeau, confident de mon rêve infini
- car le tombeau toujours comprendra le poète -,
Durant ces longues nuits d'où le somme est banni,

Te dira: "Que vous sert, courtisane imparfaite,
De n'avoir pas connu ce que pleurent les morts?"
- et le ver rongera ta peau comme un remmords.

traduzindo...


Remorso Póstumo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
Num negro mausoléu de mármores, e não
Tiveres por alcova e morada senão
Uma fossa profunda e uma tumba chuvosa;

Quando a pedra, oprimindo essa carne medrosa
E esses flancos sensuais de morna lassidão,
Impedir de querer e arfar teu coração
E teus pés de seguir a trilha aventurosa,

O túmulo, que tem um confidente em mim
- porque o túmulo sempre há de entender o poeta -,
na insônia sepulcral dessas noites sem fim,

Dir-te-á: "De que serviu, cortesã incompleta,
Não ter tido o que em vão choram os mortos sós?"
- e o verme te roerá como um remorso atroz.


***


Nada de gripe do frango, de Katrina e outras mulheres devastadoras, de arsenal de destruição em massa... blá! O mal coevo é algo bem mais complexo que uma virose... uma barafunda do que há de mais pernicioso no mundo: a falta de caráter acasalada com a falta do que fazer! Para a falta de caráter, só a morte ou uma perda irreparável (pensei em algo psicológico, mas eu me contentaria em extrair sua língua, seus olhos e suas mãos...). Já para a falta do que fazer, aqui vão algumas dicas:

*contar quantos grãos há numa tonelada de feijão;
*contar quantos pêlos púbicos você tem;
*escrever a mesma frase até preencher um caderno de dez matérias (de preferência algo como EU SOU UM EXCREMENTO);
*bater a cabeça na parede até desmaiar;
*pôr pedregulhos nos bolsos de sua roupa e se jogar num rio (só para testar a Física)...

Mas, se não se sentir tentada a acatar nenhuma dessas dicas, você poderia tentar outra coisa, como ir cuidar da sua vida!!!!!!!!!!! Experimente acordar e não lembrar mais de mim. Se lembrar, afaste esse pensamento... Você é tão articulada, tão fértil em estratagemas, por que não procura outro nome para despejar o seu sadismo? Vai trepar, minha filha, vai ser feliz, vai procurar um pano de prato pra lavar, vai se coçar... sei lá, VAI SE FUDER!!!

Sabe como é... eu desisti da minha cadeira na ONU e não tenho mais paciência para a sua obssessão, sabe? Então, sai da minha frente, ser abjeto, porque eu vou passar por cima de você!

sexta-feira, abril 07, 2006

______Sapere Aude!!!* (me morde, me desafia)


*ousa conhecer!



Gota de Sangue

Angela Rô Rô

Não tire da minha mão esse copo
Não pense em mim quando eu calo de dor
Olha meus olhos repletos de ânsia e de amor
Não se perturbe nem fique à vontade
Tira do corpo essa roupa e maldade
Venha de manso ouvir o que eu tenho a contar
Não é muito nem pouco eu diria
Não é pra rir mas nem sério seria
É só uma gota de sangue em forma verbal
Deixa eu sentir muito além do ciúme
Deixa eu beber teu perfume
Embriagar a razão porque não volto atrás
Quero você mais e mais que um dia
Não tire da minha boca esse beijo
Nunca confunda carinho e desejo
Beba comigo a gota de sangue final




só o "ousa conhecer" já deve dizer tudo... não estou com paciência para conjecturas, tergiversações ou elocubrações afins! conquanto não possa negar o que já disse (não o faria mesmo que pudesse), já está dito, não me pertence mais... então, o que me resta é dizer "ousa conhecer"... metade? dê pro seu cachorro!!!!!!


"todos querem se apaixonar sem se arriscar, nem se expôr e nem sofrer"... aí é PHODA , hein Moreno????

quinta-feira, abril 06, 2006

Você e a noite escura


Mesmo que Mude

Bidê ou Balde

Ela vai mudar,
Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou
Vai ficar feliz de ver que ele também mudou
Pelo jeito não descarta uma nova paixão
Mas espera que ele ligue a qualquer hora

Para conversar
Perguntar se é tarde pra ligar
Dizer que pensou nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido que

É sempre amor, mesmo que acabe
Com ela aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou

Ele vai mudar,
Escolher um jeito novo de dizer “alô”
Vai ter medo de que um dia ela vá mudar
Que aprenda a esquecer sua velha paixão
Mas evita ir até o telefone

Para conversar
Pois é muito tarde pra ligar
Tem pensado nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido que

É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou

Para conversar
Nunca é muito tarde pra ligar
Ele pensa nela
Ela tem saudade
Mesmo sem ter esquecido que

É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou


Sapatinhos vermelhos
Dama da Noite
You're drivin me crazy
Uma História de Borboletas
Bukowski
Bandinhas gaúchas
Escher
Piteira
Canções dentro da noite escura
"Vaaai, doidaaaaaa"
Batidinhas compulsivas no cigarro...
... quem?
.... quem vem lá?

A PERSÉPHONE MAIS DOCE QUE QUALQUER HADES CONHECEU!

amoamoamoamoamoamoamoamoamo... affffff!!!

quinta-feira, março 30, 2006

le son du silence... faire la sourde oreille!


ENJOY THE SILENCE

Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can’t you understand
Oh my little girl

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

Enjoy the silence



rainbow? rain, blow!


ROMANCE
You know what they say about romance
You know what they say about romance
Ever changing love that you can't
Keep on side a parking keel
Better the thought than the feeling
It's plain to see
All the things we suffer
From the hands of humanity
But that ain't me
That ain't me
But that ain't me
That ain't me
And I know there's a god inside it
Should I love your key
Adorn you
And get inside
But that ain't me
That ain't me
But that ain't me
That ain't me
And I know I may come to doubt it
But if I ever wishI wish we could all believe
That in this daylight world
Is a world
Where love can be
And I won't ever forget it
Cuz that ain't me
That ain't me
Cuz that ain't me
Well that ain't me
here
***
nada nos chega sem a velha e boa interpretação. com efeito, os portadores do déficit cognitivo seguem imaculados, incólumes a lucidez perigosa. mas também quedam-se sempre na soleira de todas as portas. não entram nem saem.
ontem, inventei uma festa com bexiga e brigadeiro. não tinha isso mas tinha mais. meu pai que fez a festa. não tinha isso, tinha bem menos... pouco importa! o que eu quis é o que foi e é o que é.
então, meu céu aberto é devassado por trovões. tempestuoso. num só dia, ele abriga todas as cores já vistas e as não vistas também. porque eu vejo. e, nesse mesmo dia, aviões vão rasgá-lo e desenhar corações nele e ela vai estar em todos os aviões que, por sua vez, vão levá-la... eu, por conseguinte, aqui, escrevendo, fingindo que ignoro o destino que dei para o céu...

sábado, março 25, 2006

Ar-rafyq qabla at-taryq*


* "o companheiro antes da viagem", provérbio árabe.


"Além disso, eu tinha desaprendido completamente a sua linguagem, a linguagem que também tive antes, e, embora com algum esforço conseguisse talvez recuperá-la, não valia a pena, era tão mentirosa, tão cheia de equívocos, cada palavra querendo dizer várias coisas em várias outras dimensões. Eu agora já não conseguia permanecer apenas numa dimensão, como eles, cada palavra se alargava e invadia tantos e tantos reinos que, para não me perder, preferia ficar calado, atento apenas ao borbulhar de borboletas dentro do meu cérebro. Quando foram embora, depois de preencherem uma porção de papéis , olhei para um deles daquele mesmo jeito que André me olhara. E disse-lhe:

- Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais."

(excerto de Uma história de borboletas, de Caio Fernando Abreu)

"Êxtase estupefaciente é o momento em que o sádico atinge o zênite da afetividade. Ou o nadir do sentimento? O apogeu, o perigeu, os vértices invertidos da paixão. Que tal? O sadismo é uma perversão micro-política"

(excerto de A grande arte, de Rubem Fonseca)


Atenta demais ao borbulhar de toda a sorte de insetos para escrever... esperando o inferno astral passar... observando os meus frêmitos... sorrindo ao percebê-los na outra... enchendo meu vaso até não mais poder! Elocubrar é inútil, devo advertir...

quinta-feira, março 23, 2006

Pandemia do distúrbio do déficit de... hummmm... whatever!!!


THESE BOOTS ARE MADE FOR WALKIN'
You keep saying you've got something for me
something you call love, but confess.
You've been messin' where you shouldn't have been a messin'
and now someone else is gettin' all your best.

These boots are made for walking, and that's just what
they'll do
one of these days these boots are gonna walk all over you.

You keep lying, when you oughta be truthin'
and you keep losin' when you oughta not bet.
You keep samin' when you oughta be changin'.
Now what's right is right, but you ain't been right yet.

These boots are made for walking, and that's just what
they'll do
one of these days these boots are gonna walk all over you.

You keep playin' where you shouldn't be playin
and you keep thinkin' that you´ll never get burnt.
Ha! I just found me a brand new box of matches yeah
and what he know you ain't HAD time to learn.

Are you ready boots? Start walkin'!
Exorcismo... queimem os exús!!!!! C'mon, boots!!!!!! Lagosta fresca... huehuehuehuehuehue!!!!!

segunda-feira, março 20, 2006

Je suis trop bourée pour baiser!!!!

TOO DRUNK TO FUCK!!!! (Dead Kennedys)
trilha sonora do final de semana (huehuehuehuehue)

Went to a party
I danced all night
I drank sixteen beers
And I started up a fight

But now I am jaded
You're out of luck
I'm rolling down the stairs
Too drunk to fuck

Too drunk to fuck
Too drunk to fuck
Too drunk, to fuck
I'm too drunk, too drunk, too drunk to fuck

I love your stories
I like your gun
Shooting out truck tires
Sounds like loads and loads of fun

But in my room
Wish you were dead
You ball like the baby
In Eraserhead

Too drunk to fuck
Too drunk to fuck
Too drunk to fuck
I'm too drunk, too drunk, too drunk to fuck

Too drunk to fuck
Hmm
Too drunk to fuck
I'm too drunk, too drunk, too drunk to fuck

sexta-feira, março 17, 2006

TO BRING YOU MY LOVE


Cantada - para a menina de olhos amarelos
Ferreira Gullar

Você é mais bonita que uma bola prateada
de papel de cigarro
Você é mais bonita que uma poça dágua
límpida
num lugar escondido
Você é mais bonita que uma zebra
que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás
de noite
mais bonita que Ursula Andress
que o Palácio da Alvorada
mais bonita que a alvorada
que o mar azul-safira
da República Dominicana

Olha,você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana
Para Aurélio, comover: mover muito, agitar, causar comoção ou abalo no ânimo de, emocionar, abalar, emocionar-se. Para mim, comover: mover com, deixar-se tatear pelo dedo do sentimento do outro, despertar, conceito físico de inércia. parado está, mas pode mover-se com o impacto do movimento de um outro corpo. Comover, dançar. Comover, olhar e ver. Comover, "os vértices invertidos da paixão". Comover, roubar um beijo. Ai, vê? Como comover, como me mover com você quando me comovo?

quinta-feira, março 16, 2006

Molambo com uma peça de pano pra se costurar mentira





Esse corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que sou
Este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que é tu

Que o sol não segue os pensamentos
mas a chuva muda os sentimentos
Se o asfalto é meu amigo, eu caminho
como aquele grupo de caranguejos
ouvindo a música dos trovões

Este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que sou
Este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que é tu

Fiquei apenas pensando que seu corpo
parece com as minhas idéias
Fiquei apenas lembrando
que há muitas garotas sorrindo em ruas distantes
há muitos meninos correndo em mangues distantes

Esta chuva de longe que tu vê
é apenas a imagem que sou
Esse mangue de longe que tu vê
é apenas a imagem que é tu

Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente,
sem que sejam forjados para acontecer
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente
Deixai que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes
como móveis inofensivos para lhe servir quando for preciso
e nunca lhe causar danos,
sejam eles morais, físicos ou psicológicos

Corpo de Lama
, Nação Zumbi (pula aê, Recife!!!)

***

"Oh, não se pode evitar", disse o Gato, "todos são loucos por aqui. Eu sou louco, você é louca."
"Como você sabe que eu sou louca?", indagou Alice.
"Você deve ser", respondeu o Gato, "ou então não teria vindo aqui".

excerto de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.


***


O Ministério da Saúde adverte: cair em si pode causar traumatismo craniano, a depender do tamanho do abismo! aham. mas não façamos alarde. a maior parte das pessoas não têm um "si", são simulacros de qualquer coisa que poderia ser ótima, que poderia ser encantadora, que poderia ser única... se fossem! simulacros constituídos de "se". uma letra muda tudo. ai, o léxico. ai, o "si".

trautiei um blues, mas o samba me puxou pela mão e sussurrou no meu ventre, como que para evitar uma queda, que o samba mora em mim, que eu levasse ele para a passarela e não pusesse nome na fita amarela - Coutinho, Coutinho... e Larissa também! como não atender a isso? pergunte ao pó. pergunte à percussão. pergunte a todas aquelas pessoas clamando pelo mangue!carangueijos de andada. alguns deles simulacros, sim, mas ali, todos eram "si".

com efeito, algo revirou-me o estômago. não poderia assegurar se foi a droga que eu ingeri ou se foi a droga que me enfiaram goela abaixo. Love, the drug I'm needing, got to keep this feeling. pedi na farmácia mas não tinha no estoque. não servia eplocler? ô, fazer o quê! saí com aquela satisfação pela metade, um quê de indignação nela. como assim não tem? como assim se eu sinto? sempre! ai, Alice, está em você, estúpida! não se comercializa, não se forja. o que se pode esboçar no "se" é romance. your turn to play, darling! tudo bem que não tenha na farmácia o que busco, mas bem que podia ter envergadura moral, né? e saio da farmácia-supermercado com meu epocler e meu...hum...o quê mesmo? não lembro, mas não faz importância. posso garantir que não foi envergadura moral!

no final das contas, pra quê tanta frustração? para onde fui, não era preciso nem um nem outro. não obstante seja uma fundamentação fascista, manipular uma pessoa só é que é veleidade. uma multidão, era transe, era delírio, era eclipse oculto. então, me esgueirei por entre eles, comi terra, lambi luas, fui atravessada pelas vozes, currada pelo batuque. ninguém notou mas eu e a lua sabíamos. o orgasmo veio com o saber-me "si" e molhou as flores de vidro do "se". mas, no meu jardim de veleidades, elas não poderiam ser fecundas, nem que toda a minha intensidade escorra sobre elas até ficarem submersas. nada brota do "se".

domingo, março 12, 2006

Meu coração, uma Olivetti sem cabo!



Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão

Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar

E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora

Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer

Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados

Eu ando tão down
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down

Down em mim, Cazuza e João Donato



no trânsito astrológico que recebia em seu correio eletrônico, uma advertência. não saberia dizer ao certo qual fora. recebia aquilo toda semana. por vezes, motivação. por vezes, alarde. nunca deu muita importância. na verdade, não entendia quase nada daquilo.
uma, três, cinco carteiras de cigarro. uma música reverberando. um sorriso de canto de boca. o mesmo canto destinado ao cigarro. a única cortesia, a bebida. não fazia a linha bêbado-de-botequim mas ela lhe cairia muito bem. ah! lembrara: entendia um pouco de astrologia, sim. estava no inferno astral.
"I'm so tired of playing...". trilha sonora da vez. até entrar em catarse. aquela epifania conhecida. com efeito, sofrer para ela era amar demais. good morning, headache, what's new? masturbação só servia agora pra dormir - e olhe lá! surtia efeito ainda, mas o kenoma do final ganhava espaço no sonho. amor não é carta e não tem destinatário, por mais que se confira um rosto ou um nome a ele. lembrou-se de que nunca trazia selos consigo.
agora, amava as bichas que flertavam às três da manhã numa estação de transporte urbano. com efeito, amava ainda mais o pivete com um cigarro no canto da boca. apertaria contra o peito o travesti que tentava se desvencilhar da vigília policial! não agora exatamente. poderia soar estranho. aliás, era melhor guardar aquele livro na bolsa...
chegava em casa e não sabia mais para quê tinha comprado aquela cama king size. abrir a janela podia ser perigoso. se tentasse lavar pratos, ia atirá-los um a um. melhor, ouvir alguma coisa. "espelho, espelho meu, existe alguém mais louca do que eu?". queria topar com a Rô Rô em algum boteco, mas ela já deve ter quebrado a porra do espelho há muito tempo! Não há cabeça, Rô Rô, não há cabeça... eu ando tão down!

quarta-feira, março 08, 2006

Music is my hot hot sex



From all the drugs the one i like more is music
From all the junks the one i need more is music
From all the boys the one I take home is music
From all the ladies, the one I kiss is music

Music is my boyfriend
Music is my girlfriend
Music is my dead end
Music's my imaginary friend
Music is my brother
Music is my great grand daughter
Music is my sister
Music is my favorite mistress

From all the shit the one I gotta buy is music
From all the jobs the one I choose is music
From all the drinks I get drunk of music
From all the bitches the one I wanna be is music

Music is my beach house
Music is my hometown
Music is my king size bed
Music's where I meet my friends
Music is my hot hot bath
Music is my hot hot sex
Music is my backrub
My music is where I'd like you to touch(...)

trecho de Music is my hot, hot sex, do Cansei de Ser Sexy


não consigo escrever... só esgaravato com os dedos o que insiste em ser recôndito conquanto povoe cada vértice de mim! nada melhor que música pra isso...

quarta-feira, março 01, 2006

"Já namorei uma ariana. Já fui casada com uma leonina!!"


"Twenty-nine pearls in your kiss
A singing smile
Coffee smell and lilac skin
Your flame in me
(...)
Such a thing of wonder in this crowd
I’m a stranger in this town
You’re free with me
And our eyes locked in downcast love
I sit here proud
Even now you’re undressed in your dreams with me
Oh, I’m only here for this moment"
trecho de Everybody here wants you, de Jeff Buckley
poderia ser um conto de Caio F. mas não é. poderia ser um joguete do destino e, muito provavelmente, é. mas bem que podia ser um conto de Caio, né? algo como Aqueles dois, talvez... a maravilha nascendo da beleza do encontro de duas amarguras: paralelas, dissociadas entre si em tempo, espaço, nome... pensar nas diversas possibilidades que nunca até então se concretizaram, vazadas como um útero que se prepara para a fecundação e que se frustra... que chora e ri sangue, num misto de alívio e decepção, ao ser privado de acalentar o novo!
"não era para ser" é uma ótima resposta mas que não satisfaz. simplista demais. se não sabemos aonde vai dar, para quê compilar mais questionamentos igualmente estéreis, afinal? se o pôr-do-sol passou e continuávamos lá?! se o amanhecer chegou e continuávamos lá?! regurgitando sobre imaturidades, fracassos, irresponsabilidades. brincando de casinha. tentando entender, recuando diante de tanta coincidência. concluindo que era coincidência demais, que era rápido demais, que era perfeito demais, que era mágico demais.
elocubrações intercaladas por espasmos, frêmitos, disritmias. e então, silêncio. ensurdecedor. como se um transe acabasse de povoar nossas mentes e sentidos, e estivéssemos tentando reconhecer o real no meio da lisergia. Coca-cola, chocolate branco, gato, música, filme... você gostou mais do amanhecer ou do pôr-do-sol? pôr-do-sol, sem titubear! mas o amanhecer também tem seu valor. silêncio. quero ouvir música. à vontade. Everybody here wants you! I'm only here for this moment... ela sabe.
faço questão de que saiba. consideramos os riscos. de novo. e sabemos que não será a última vez. constrangimento. "que tanta cerimônia se a dona já não tem vergonha do seu coração"? Everybody here wants you acabou para dar vez a Purple Rain. olho e ela ainda está ali e parece que sempre esteve... eu sigo cantando Purple Rain como forma de corroborar, de selar um pacto com ela. anote aí, mais uma cláusula. não sei porquê, mas as cláusulas me soam desnecessárias. para quê regulamentar normas? afinal, I'm only here for this moment!
eu sei. ela sabe. Iara e Olga também. se não ficar muito claro para quem vier a ler, não se preocupe. de tão translúcido, ofusca. pigmentação específica do nosso cartoon-conto-música-filme. e o melhor final será sempre a vida sonhada dos anjos, havendo outro amanhecer ou não, outro anoitecer ou não. eu sei que estarei na estação, mesmo tendo medo!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

do sempiterno e seus compêndios


" as palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando uma com as outras, parece que não sabem aonde querem ir e, de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem aguentar mais, suportaram muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura..."
*excerto de Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago
"Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato. Seguindo esta receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram."
*excerto de Saúde Mental, de Rubem Alves (OBRIGADA, EEK!)
"Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada. "
*excerto de Dama da noite, de Caio Fernando Abreu

sábado, fevereiro 18, 2006

Se há algo diminuto no sobrenome, é apenas por engano...


Para Coutinho


COCOON
Bjork


Who would have known : that a boy like him
would have entered me lightly restoring my blisses

Who would have known : that a boy like him
after sharing my core would stay going nowhere

Who would have known : a beauty this immense
who would have known : a saintly trance
who would have known : miraculous breath
to inhale a beard loaded with courage

Who would have known : that a boy like him
possessed of magical sensitivity
would approach a girl like me
who carresses
cradles
his head in a bosom

He slides inside
half awake / half asleep
we faint back
into sleephood
when i wake up
the second time in his arms : gorgeousness!
he's still inside me!

who would have known

A train of pearls
cabin by cabin
is shot precisely across an ocean
from a mouth

From... a...

From a mouth of a girl like me

To a boy
To a boy
To a boy

Epifania cruciante...


Me mataria em março
se te assemelhasses
às cousas perecíveis.
Mas não. Fôste quase exato:
doçura, mansidão, amor, amigo.
Me mataria em março
se não fôsse a saudade de ti
e a incerteza de descanso.
Se só eu sobrevivesse quase nula,
inerte como o silêncio:
o verdadeiro silêncio de catedral vazia,
sem santo, sem altar. Só eu mesma.
E se não fosse verão,
e se não fosse o medo da sombra,
e o medo da campa na escuridão,
o medo de que por sôbre mim
surgissem plantas e enterrassem
suas raízes nos meus dedos.
Me mataria em março
se o medo fosse amor.
Se março, junho.
(Poema II do livro Presságio, de Hilda Hilst)
não consigo reconhecer no lá fora as cores que me compõem. no lá fora, há azul, verde-bandeira, marrom, cinza, laranja... aqui dentro, roxo. blue, volte mais tarde, agora fico com blues. se silencio, não é por não ter o que dizer. quero cantar, calo. não funcionaria de outra maneira. o embusteiro roubou-me as partituras e as notas de que me recordo se perdem antes de chegar às comissuras de minha boca... de tanta força que faço, meu arco se parte e minha música se torna inaudita conquanto o músculo teime em me dar compasso. um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar...
elefantes, Muralhas da China, crianças, piratas. não insistam! não vêem que aqui dentro não há lugar? não percebem que para lhes dar espaço, preciso liquefazer-me? e que, de tão líquida, desidrato? I've seen water... it's water, that's all!
por onde se escoa o amor? não falo do amor à la se-você-quiser-ser-minha-namorada... ah! se tudo fosse isso!!! sou uma mãe incestuosa e masoquista, compreende? lambo a virilha do amor mas há navalhas nela. trauteio uma ciranda para ele dormir e me enveneno...
será que se eu ficar de cabeça pra baixo o amor sai? que parte do meu corpo ele habita? não faz sentido ele ficar no coração. e se ele nasce no coração e é transportado pela corrente sanguínea, se ele circula, por que, então, eu o sinto em lugares específicos? o amor pode coagular em alguma parte do meu corpo? e se coagular, pode virar gangrena? pode me tornar putrefata? pode amputar-me algum membro? pode me matar? e se é bonito, se pulsa, se circula, se leva e traz ar, por que mata?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Não há "somos" e, sim, assomos de sermos...

"Modern Romance"
Don't hold on
Go get strong
or don't you know
there's no modern romance
Time, time is gone
it stops stops
who it was
well i was wrong
it never lasts
there is no
this is no modern romance
in time,
time is gone
never last
stops who he was
well i was wrong
never lasts
this is no
there is no modern romance
there is no modern romance
this is no modern romance
there is no there is no
***
Faixa "oculta" do mesmo álbum (Fever to tell)
Baby I'm afraid of a lot of things but
I ain't scared of loving you
And baby I know you're afraid of a lot of things
But don't be scared of love... 'cause
People will say all kinds of things
But that don't mean a damn to me
'Cause all I see is what's in front of me
And that's you
Well I've been dragged all over the place
I've taken hits time just don't erase
And baby I can see you've been fucked with too
But that don't mean your loving days are through
'Cause people will say all kinds of things
But that don't mean a damn to me
'Cause all I see is what's in front of me
And that's you
Well I may be just a fool
But I know you're just as cool
And cool kids, they belong together
Por hoje (ou melhor, por agora), como estou atrasada para um compromisso e as emoções crepitam em mim até sufocar, vou deixar que a música fale por si...
à elle, mon bourreau! (a ela, meu carrasco)

terça-feira, fevereiro 14, 2006

MON REPOS... *


* "meu repouso", em francês.
"já sabemos que desses dois se amam as almas, os corpos e as vontades, porém, estando deitados, assistem as vontades e as almas ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles para tomarem parte no gosto, difícil é saber que parte há em cada parte, se está perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda levanta as saias e Baltasar deslaça as bragas, se está a vontade ganhando ou perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo vencedor ou vencido quando baltasar descansa em Blimunda e ela o descansa a ele, ambos se descansando (...) que entre o amor dos que ali dormiram e a santa missa não há diferença nenhuma; ou, se a houvesse, a missa perderia"
excerto de Memorial do Convento, de José Saramago

"Conversa às 3:30 da madrugada"



às 3h30 da madrugada
uma porta se abre
e há passos na entrada
movendo um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e responde.
com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?
e ela entra
com rolos no cabelo
e num robe de seda
estampado de coelhos e passarinhos
e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.
você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e de canções românticas,
e depois de alguns copos
ela não se preocupa em cobriras pernas
com a beira do robeque está sempre caindo.
não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolos,
e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.
e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.



conheci Bukowski de forma inopinada: meu pai (ainda terão oportunidade de conhecê-lo... hehehehehe) tinha dois livros dele, Fabulário Geral do Delírio Cotidiano e Mixto Quente - diga-se de passagem que não se tratam de dois títulos tão conhecidos... fiquei olhando para a fotografia de divulgação... um velho pançudo, com uma camiseta justa e pequena, que mal cobria seu umbigo, um cara feio mesmo, com uma garrafa numa mão e uma mulher pitoresca (ai, o eufemismo...) na outra! fuçei tudo o que pude sobre a obra e a vida dele. curvei-me de imediato! já então gostava de ler e tinha cá as minhas aspirações mas nunca tinha visto nada tão escrachado. conservava a ingênua concepção de que Versos Íntimos era o máximo do rebelde, do soturno... é isso mesmo! literatura de colegial... podre!

não preciso dizer que cometi o delicioso delito de pegar esses livros "emprestados" sem autorização e tratei logo de pôr meu nome neles. que diabos, meu pai nunca leria aquilo mesmo! se leu, de certo que foi no tempo em que ele usava uma haviana de cada cor, mesclando rosa e azul, ou amarela e preta... dava tudo para ver isso!!!

bukowski, então, aguçou-me a sensibilidade - ele daria boas gargalhadas se soubesse disso e eu riria com ele da mesma maneira: marginal, contundente, anestésica...

Pour toi, mon gredin! (para você, meu patife!)


"Crevez, chiens, si vous n'êtes pas contents!" *

* "rebentem, cães, se não estão contentes!" (na cultura nordestina brasileira, eu atribuiria a "é tempo de murici, cada um cuida de si!)
não imaginei que fosse tão difícil criar e manter um blog! melhor: pensava que as dificuldades se resumiriam à responsabilidade acerca do que fosse "dito"... mas que nada! esta já é a a segunda vez que tento postar alguma coisa, que tenho texto, imagens, dedicatórias, a parafernália toda estruturada e formatada na tela do computador e recebo uma rasteira daquelas de mestre da tecnologia!!! hehehehehehehe... primeiro, é o servidor que resolve se abster de suas atribuições bem na hora em que resolvo salvar a tal da postagem! desta última vez (assim espero!!!), há uma queda de energia na minha rua!! só rindo...
fato é que fiquei sem o que havia traçado ontem (Patinha, minha referência a você fica para uma próxima, viu?) e minha anima tornou-se iracunda... resolvi sorver o fenômeno e conferir, como uma cristã perturbada, ares de parábola a ele: vou salvar cada vírgula do que fizer no Word... e tenho dito!

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

"eu corpo palavra, sangue emoção sufixo..."



nossa! como foi difícil criar isso... para começar, o nome: "fogo-fátuo", "assez-cause", "espasmódica", "rútilo-nada"... ahhhhhhh! quase fiquei pelo caminho. qual o quê! então, dormi pensando nisso e foi à toa? e cá estou eu, sentindo um frio na barriga... pode? mas assim é que é: essa exposição, essa responsabilidade com as palavras que tenho desde sempre... bom, às favas com tanta relutância! Assez-cause!!!